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Já existiram campanhas em Lisboa bem mais interessantes no que diz respeito a cartazes e materiais de campanha, talvez por isso não nos tenhamos aqui debruçado tanto quanto devíamos nestas autárquicas 2013, mais que não fosse pela proximidade física que a maioria de nós tem com estes cartazes.
Relativamente a António Costa já aqui foi analisado o seu primeiro cartaz, que eu não gosto. Entretanto o candidato do PS já teve na rua mais duas fases, muito bem conseguidas e infelizmente ainda não analisadas aqui. Uma primeira com diversas pessoas em várias localizações da cidade e a segunda com a sua equipa. Ambas muito bem conseguidas em termos gráficos, com uma boa aposta na fotografia. Mais uma vez bons exemplos de que um cartaz que nasce e vive da fotografia costuma dar bom resultado. Deixo duas fotos (possíveis) destas duas vagas. No facebook da candidatura poderão ver as imagens.
Hoje partilhamos o último cartaz de António Costa que está a causar burburinho (não necessariamente negativo), pelo que foi fácil ter acesso a uma foto do cartaz através de várias partilhas no facebook. Mas o que me leva a analisar e tecer considerações sobre este cartaz é a surpresa que está a causar (a mim surpreendeu), não pelo arrojo, mas pela aposta arriscada.
Gosto globalmente do cartaz devido à opção gráfica dos elementos que sustentam o slogan/claim. A fotografia não me parece muito bem conseguida. Mas foco no claim. “Preciso do seu voto…”. Como? Fiquei surpreso a ler este pedido. Passaram algumas horas e ainda estou no limbo entre o estranhar e o entranhar. É que António Costa não é apenas o actual presidente, não é apenas o front runner. Dizem as sondagens que terá uma vitória folgada e não deveria estar preocupado. E esta frase, este pedido, soa a preocupação. Pergunto-me: terá a candidatura de António Costa dados que o preocupam? Terá sondagem onde não tem a maioria e quer força-la? Será por um crescimento de Fernando Seara? Ou de não estar a ganhar mandatos e ser a CDU a faze-lo? Ou outra força política a eleger vereadores o que o obrigaria mais uma vez a ter que partilhar pelouros? Será receio da abstenção? E isto depois de ter estado numa acção de rua com os históricos socialistas Soares e Alegres, antes desavindos. Pois é, demasiadas questões que traz um mero cartaz. E ainda há quem diga que os cartazes não têm relevância.
Uma coisa é certa. António Costa não quer demonstrar conforto perante as sondagens e opiniões e decidiu apostar na mobilização do eleitorado. Algo normal na fase final de uma campanha onde o foco está no apelo ao voto. Mas também é certo que o fez de uma forma arriscada. Pois um claim destes, que é forte, leva para extremos. E fica a dúvida se é preocupação ou soberba.
Última nota: neste cartaz, tal como no anterior em que surge com a equipa, António Costa deixa cair os símbolos dos movimentos de Helena Roseta e Sá Fernandes.
No facebook consegui ainda ter acesso a foto de um cartaz que não resisto a partilhar e por razões positivas. Em Lisboa, tal como em muitos concelhos, nesta fase final as ruas foram também ocupadas por cartazes dos candidatos às freguesias. A maioria dos casos segue a opção de foto do cabeça de lista à freguesia acompanhado do candidato à Câmara. E com excepção do slogan, que a maioria das candidaturas (aqui partilho de opinião similar do Telmo) cai no erro de deixar cada um escolher o seu, as fotos seguem todas modelos convencionais. Há poucos dias vi na rua o cartaz do candidato do PS a São Domingos de Benfica e saiu logo aplauso, pela fuga ao convencional, conseguindo, passe a notória diferença de alturas, um cartaz feliz. E lá está, para quê aquele slogan do “desenhar um novo futuro”? É uma foto que calhava muito bem apenas com o “Juntos Fazemos Lisboa”.
Depois de aqui termos analisado a campanha do Bloco de Esquerda no Porto chega a vez de Lisboa. Depois de falhada a eleição de vereador em 2009 com Luis Fazenda, que este ano presta-se ao serviço em Sintra, e de alguma convulsão interna o Bloco teve que lançar para cabeça de lista uma das cabeças da liderança bicéfala, neste caso João Semedo, que vai acompanhar Ana Drago, que repete a experiência de ser a cara bloquista na Assembleia Municipal.
E eis um bom cartaz. A dupla de candidatos, e respectivos nomes, com ligeiros sorrisos (na fotografia só dizia ao João Semedo para desabotoar o botão da camisa), o símbolo do bloco, o endereço do site da candidatura (gosto que seja .org) e o slogan são os elementos presentes. E é no slogan que estão os elementos diferenciadores e que prendem positivamente a atenção. O lettering é dinâmico e o desenho de telhado entra muito bem, dando a sensação de terra e de pertença. O slogan “queremos Lisboa!” é arriscado, mas com as declinações positivas que surgem em baixo fica tudo bem encaixado e a fazer sentido.
Por estes dias Lisboa foi surpreendida com cartazes da Plataforma de Cidadania. O que à primeira vista parece mais um movimento independente no âmbito das autárquicas é apenas a junção de três partidos “pequenos”, o PPM, PPV (Pró-vida) e Nova Democracia. Os símbolos dos partidos até estão repetidos, mas são mesmo apenas os símbolos. Quem conhece percebe, quem não conhece será que se questiona?
Mais um cartaz que segue a mania das ondinhas (haja paciência) e um lettering banal para uma mensagem de ataque directo aos partidos “grandes”. Um cartaz com duas mensagens exclamativas (!), mas em que uma trata o eleitor por “você” e a outra por “tu”. Já se decidiam no tom. Depois outra indecisão, no “É a tua VEZ!”, porque raio a opção das maiúsculas no “VEZ”? Se era para seguir esta opção não faria mais sentido ter colocado as maiúsculas no “TUA”?. O cartaz tem um azul que chama a atenção, mas é um cartaz sem nexo.
Nestes cartazes é ainda de ressalvar que não houve cuidado na implementação das estruturas, pois depois dos buracos feitos para as estruturas deixaram as pedras amontoadas junto aos ferros. E há eleitores que não gostam. Para uma plataforma de cidadania, não está mal. Outra falta de cuidado é no cartaz colocado no Saldanha, onde a mensagem perde toda a eficácia por ficar tapada pelas folhas da árvore. Vá lá que não deram uma de jardineiros, depois da falta de jeito para calceteiros.
A análise geral da campanha de António Costa já foi aqui realizada. Prometi analisar a aposta do candidato nos meios online, nesta campanha que me atrevi a denominar “à la Obama”.
Nos outdoors analisados o website e o QR Code (já foi comentado o quão pouco eficaz é colocá-lo num outdoor) são dois elementos de destaque, o que demonstra a grande aposta nos meios digitais.
De forma a facilitar a análise, ela será feita por plataforma:
Website- análise de conteúdo:
Um dos chavões que encontramos no website é "crowdfunding", ou financiamento colectivo. Esta é, na minha opinião, uma excelente iniciativa. É já uma prática frequente noutros países e mesmo cá dentro temos assistido ao nascimento de várias plataformas deste tipo, cujo objectivo é angariar dinheiro para os mais diversos projectos ou empresas. António Costa conseguiu já 45% do valor pedido, através da plataforma ppl.com.pt. As doações podem ser de apenas 2 euros e consoante o valor é atribuído um pequeno prémio. A mecânica é a correcta e está a resultar. Ver aqui.
O restante conteúdo é relevante: eventos da campanha, os candidatos das juntas de freguesia,… . No entanto, existem opções que se estivermos a usar o Safari não consiguimos aceder, como o menú “candidatos- assembleia municipal”.
Social Media:
Existe um aposta em vários tipos de social media, como o Flickr e redes sociais como o Youtube, Twitter e Facebook. O Instagram é também mencionado mas o candidato não tem presença nesta rede, o que até me parecia uma excelente ferramenta para demonstrar um lado mais descontraído.
Facilmente nos apercebemos de que não existe coerência entre as várias redes sociais. Optam por colocar a fotografia de António Costa nas imagens das páginas de Facebook, YouTube e Twitter mas esta nem sequer é a mesma em todas as plataformas. Para além disso o nome de utilizador difere de plataforma para plataforma, desde “costa2013Lx” (Twitter), “JuntosporLisboa” (YouTube).
O Twitter tem sido utilizado apenas para replicar o conteúdo do Facebook. Conta apenas com 17 seguidores e 21 tweets. O Twitter deveria ser aproveitado como uma plataforma de social listening mas, pela pouca interacção com os seguidores, não acredito que esteja a cumprir esse objectivo.
Em relação ao Facebook, sou sempre bastante crítica quanto à forma como os nossos políticos usam (ou não usam) esta rede social. Acredito que a proximidade com o votante e a humanização do candidato são pontos fulcrais em comunicação política e esta é uma plataforma excelente para o fazerem. Em Portugal é usado apenas como mais um veículo de comunicação institucional e nesta campanha não é diferente. Embora na descrição da página da campanha de António Costa se mencionem palavras como “dialogar” e “interagir”, na verdade todas as interacções feitas pelos seguidores não têm resposta, quer sejam positivas ou negativas.
O conteúdo é institucional, partilha de eventos, fotografias da campanha e até partes do discurso político. O candidato é referido na terceira pessoa, o que nos leva logo a deduzir que não será ele a partilhar conteúdo.
Conclusão, o website ocupa um lugar central na campanha e a tendência é mesmo essa. No entanto, a sua execução levanta muitas dúvidas.
O candidato optou por ter também presença em várias plataformas sociais, contudo ter uma boa presença (o que é totalmente diferente) requer muito tempo, dedicação e uma estratégia, o que não se verifica.
QR Costa
Antes de partir para a minha primeira análise neste blogue, não posso deixar de agradecer o simpático convite dirigido pelos meus colegas.
Como praxe coube-me a análise da campanha de António Costa, uma das figuras de destaque destas autárquicas, não fosse ele o candidato mais forte à Câmara Municipal de Lisboa.
António Costa é presidente da Câmara Municipal de Lisboa desde 2007, tendo sido reeleito em 2009, por maioria absoluta. A campanha de 2009 foi aqui e aqui analisada e, na minha opinião, foi francamente melhor do que a campanha com que se apresenta este ano.
A campanha de 2009 estava graficamente bem conseguida ao contrário do que verificamos hoje nos outdoors que têm “adornado” a nossa capital.
Algumas comparações com a campanha de 2009:
Conclusões: campanha de 2009 a ganhar.
As considerações sobre esta campanha não se ficam por aqui...
António Costa é um político com boa figura. Por “boa figura” entenda-se uma pessoa com quem os votantes facilmente se identificam e por quem criam empatia. Nem todos os políticos têm a sorte de ter esse ar sereno e amistoso que leva votos às urnas (que o diga o nosso Presidente da República cuja aparência é, sem dúvida, associada a uma pessoa austera). Assim, parece-me um desperdício que essa presença não seja aproveitada nos materiais de comunicação.
Guiar a campanha por um conceito poderá ser um bom caminho mas este conceito nada traz de novo quando comparado com as imensas campanhas espalhadas pelo país de “Unidos por x”, “Todos por Y”.
Graficamente o cartaz é muito pobre... o fundo branco, com “aguarelas” verdes, num skyline cinzento da cidade de Lisboa, que parece espelhar o estado do país... Uma combinação fatal!
“António Costa 2013”, um dos elementos que deveria ter destaque, é facilmente perdido no cartaz: pedimos para lerem “Participe” (que ocupa um lugar de destaque no cartaz, não sendo um apelo diferenciador), um URL (do website da campanha) e um QR Code, antes de chegarmos ao nome do candidato, ali escondido juntamente com o seu partido.
Um outro elemento com protagonismo no cartaz é o QR Code. O QR Code é um código de barras em 2D que, quando decifrado por uma aplicação própria, nos irá direcionar para um endereço na web. Neste caso, este QR Code direcciona para o Youtube da campanha. Um QR Code num outdoor não é a melhor opção: existe uma grande dificuldade em lê-lo, mesmo que estejamos a passar pelo outdoor a pé (existe já a piadinha de que deveriam ter colocado escadotes ao pé dos outdoors).
A presença dos QR Codes é constante noutros meios, como o website. Ao submetermos uma sugestão, aparece um outro QR Code para ser decifrado. Regra número 1: Não se colocam QR Codes num website, simplesmente não faz sentido pedir aos utilizadores para pegarem no seu telemóvel, lerem o QR Code, quando podem simplesmente clicar num link.
Nesta campanha, António Costa apostou em vários meios online, os quais analisarei num segundo artigo. Esta parece-me uma tentativa de fazer uma campanha “à La Obama” mas penso que, para já, está muito longe de estar à altura.